sexta-feira, 27 de agosto de 2010

A Origem (do Blog)



Sonho ou realidade?
     Este blog já teve chances de ganhar ‘vida’ algumas vezes, mas sempre faltou um impulso, uma intervenção divina, um motivo de força maior... Até que no domingo, dia 08 de agosto, fui assistir à ‘A Origem’ e decidi que criaria um blog para escrever, entre outras coisas, críticas de cinema, e neste caso específico, manifestar uma certa raiva que o longa despertou em mim. (Para os leitores imaginários que desconhecem o fato, sou um grande fã de todo e qualquer gênero cinematográfico!).
     Apesar do estímulo, na segunda-feira estive ocupado o suficiente no estágio para desistir da ideia. Na terça, entrei em um link do site do jornal O Globo para o blog do Artur Xexéo e vi que o cronista recebeu um batalhão de comentários indignados porque havia criticado negativamente o longa de Nolan. Na quarta ou na quinta, foi a vez da colunista Barbara Gancia da Folha de São Paulo tomar uma surra por motivo semelhante.*
     A partir daí, parei para pensar se deveria mesmo expor o meu rancor em relação à Inception. Logo, vocês, queridos fantasmas, se perguntam que fama julgo ter para achar que repercutiria da mesma maneira a partir de um único e mísero post. E vocês estão certos: nenhuma, nula, zero! Mas, como diz a propaganda de seguros do Bradesco: “– Vai que...”
     Nos dias que seguiram, a falta de tempo e inspiração se alternaram, impedindo que eu desse continuidade ao ‘projeto’. Isso fez com que, aos poucos, eu digerisse e refletisse melhor a respeito do filme. Eis que hoje, o rascunho finalmente deixa de ser um simples documento de Word e o post se torna um tributo retardatário – e, portanto, um pouco reiterativo em relação a tudo o que já foi publicado sobre o filme até o momento – a Christopher Nolan e sua trupe sonhadora. Afinal, o Cara, como muitos críticos apontaram, soube fazer um blockbuster inteligente com maestria (apesar de um pequeno deslize, o roteiro é original e criativo, retira o espectador do estado de inércia e não se rende a um amontoado de perseguições desenfreadas injustificadas). Coisa rara hoje em dia.
     Como metade da população já ouviu ou leu por aí, a trama gira em torno de Mr. Cobb (Leonardo DiCaprio, provando que a maldição do Oscar não vale para todos e que 2010, até o momento, é dele), um ladrão capaz de penetrar nos sonhos das pessoas e roubar segredos valiosos. Disposto a rever seus filhos, ele aceita uma difícil e última tarefa, que consiste em implantar uma ideia na mente do herdeiro de um conglomerado (vivido por Cilian Murphy) – o inverso àquilo que Cobb está habituado a fazer. Embora o diretor não abra mão do clichê da ‘última missão antes da aposentadoria’, esta quase passa desapercebida diante do que ele nos entrega na telona: um elenco afiado, uma trilha sonora instigante, uma montagem tensa e efeitos especiais surpreendentes. As cenas finais que transitam entre os diferentes níveis dos sonhos são sensacionais. Destaque também para as cenas impressionantemente benfeitas em que Paris dobra sobre si mesma e em que o personagem de Joseph Gordon-Levitt luta no corredor de um 'prédio que está caindo'.
     Ao mencionar tais cenas, assume-se que a verossimilhança não é uma característica prezada por Inception. Mas quem se importa? Quem vai ao cinema para ser entretido pela realidade que nos cerca e, muitas vezes, nos aborrece? O filme é perfeitamente coerente com o universo em que se passa. Além disso, o segredo de qualquer ida ao cinema é a predisposição para se deixar levar. E não há blockbuster em cartaz atualmente que nos embarque numa viagem melhor do que ‘A Origem’. Por isso, compre o ingresso, se afogue na pipoca e curta uma excelente jornada!


*Moral da história: Artur Xexéo busca um filme transcendental, que faça o seu cérebro ferver como conseqüência de reflexão em demasia (ele reclamou que não entendeu aquilo que não tem que ser entendido e como ele próprio concluiu, trata-se de apenas um filme de ação) e Barbara Gancia deve se candidatar em breve à prestação de consultoria para roteiros (ela questionou o proposital não-comprometimento de Inception com a realidade).