sexta-feira, 8 de outubro de 2010

DisCOVEr

     Aos sete anos, fui ao Sea World pela primeira vez. Me recordo de ter ficado embasbacado com os shows de golfinhos, de leões-marinhos, de baleias e tudo o mais. Voltei duas ou três vezes, sempre impressionado com as acrobacias daqueles animais. Nunca tive distanciamento emocional o suficiente para deixar que o meu pensamento viajasse para além dos tanques que eles habitam. Acreditava que, por viverem com semelhantes e alimentados a todo o tempo, eram felizes.
     No último dia 30, essa ilusão infantil ruiu em 90 minutos.
     Estávamos eu e 49 cinéfilos (não há outra denominação para aqueles que vão assistir um documentário do Festival do Rio às 12h de uma quinta-feira) na sala 1 do Estação Botafogo aguardando o início de ‘The Cove’ de Louie Psihoyos, quando, devido a problemas com o áudio, o cancelamento da sessão foi anunciado. A fúria do grupo heterogêneo aflorou e, logo, o rolo de película foi levado para outra sala. Um cubículo de onde sairíamos vazios e com os olhos inchados.
     Psihoyos acompanha a trajetória ativista de Richard O’Barry na tentativa de denunciar o massacre de 23 mil golfinhos que ocorre anualmente numa pequena cidade costeira do Japão, Taiji. Ric foi um dos treinadores dos golfinhos que faziam a série Flipper nos anos 60 e trabalhou durante muito tempo no aquário de Miami. Após o suicídio de uma das fêmeas do seriado, Cathy (o animal submergiu e não voltou mais à superfície para respirar), ele parou para refletir se valia à pena levar uma vida endinheirada ao custo do aprisionamento de tais mamíferos.
     A partir de então, Ric iniciou uma jornada incansável para expor os absurdos que acontecem em Taiji e salvar a vida dos golfinhos. Vale ressaltar que a montagem do longa tem um ritmo que não deixa a desejar em nada as seqüências de ação dos blockbusters. E o vencedor do Oscar de melhor documentário em 2009 envolve, emociona e mostra aquilo que ninguém gostaria de ver: golfinhos sendo apunhalados por lanças e um mar tomado por sangue.
     Saí de lá diminuído como ser humano, e tenho a certeza de que os demais presentes também.