sábado, 25 de setembro de 2010

E você, tá feliz com a volta do Jabor?


Arnaldo Jabor no 'palco' do Odeon
     'Está cada vez mais caótico o trânsito do Rio de Janeiro...’. Infelizmente, quinta-feira à noite não era um bom dia para fazer esta constatação. Estava percorrendo a cidade de cabo a rabo (leia-se Barra e Centro, respectivamente) para chegar a tempo de assistir ‘A Suprema Felicidade’ no Odeon, marcado para às 20h30. A missão foi cumprida em exatos 120 minutos e estacionei o carro às 21h sobre uma faixa de travessia de pedestres sem pensar muito nas chances que ele teria de ser rebocado. O flanelinha, de olho na sua comissão, disse que tava ‘tranquilão’.
     Pela primeira vez, fiquei feliz por um evento não começar pontualmente em terras tupiniquins. Porém, o lugar já estava lotado e o burburinho calava a música ambiente. Os poucos assentos livres eram guardados para amigos retardatários. Subi para o andar de cima na esperança de encontrar uma poltrona solitária à minha espera. Doce ilusão. Até o ‘poleiro’ – fileira mais alta onde o ar condicionado mal chega e a visão da tela é prejudicada – estava tomado. Não restou alternativa que não me acomodar em um degrau e aguardar o início da cerimônia.
     Eram 21h30 quando Milton Gonçalves subiu ao ‘palco’, discursou e declarou aberto o 11º Festival do Rio. Mais algumas pessoas (diretora do Oi Futuro, diretora de comunicação da Petrobrás entre outras) fizeram agradecimentos até Ilda Santiago, uma das organizadoras do Festival, chamar Arnaldo Jabor e elenco para apresentarem o filme da noite. Suas belas palavras foram mais ou menos assim: “Eu cresci assistindo os filmes do Jabor e eu me sinto até meio criança aqui. E eu gostaria de dizer que ‘A Suprema Felicidade’ é nossa aqui hoje”.
     Concordo com Ilda que a felicidade era nossa ali, mas não posso afirmar, depois de ter visto o filme, que era suprema. O longa de Jabor é superlativo em quesitos como o roteiro não-linear, a montagem ousada e a trilha sonora regada a samba. Porém, em minha humilde opinião, algumas falhas o comprometem. Falta química entre Mariana Lima e Dan Stulbach, mesmo levando em consideração que se trata de um casal em crime e, uma vez que a história se desenrola nos anos 30 e 40, a imagem limpa demais carece de um filtro, uma granulação que marque isso.
     A trama acompanha as  memórias da infância e adolescência do menino Paulo, o declínio do casamento de seus pais e a conseqüente aproximação com o avô (Marco Nanini numa atuação brilhante, apesar de ter sua imagem muito marcada pelo Lineu de ‘A grande família’). Este junto com Paulo (neste momento do filme, o convincente Caio Manhente) fazem a cena mais bonita quando saem para ver as estrelas e conversam sobre o infinito. Elke Maravilha e João Miguel estão ótimos como a avó de Paulo e o pipoqueiro safado da rua, e Tammy Di Calafiori surpreende como a dançarina de cabaré por quem o protagonista se apaixona.
     O maior mérito de Jabor e seu longa é despertar saudade no espectador. Saudade daquilo que não viveu, de um Rio que não conheceu. Saudade de memórias que não lhe pertencem, mas foram compartilhadas durante a sessão.


OBS: Agora, 20:20, posso abrir o Segundo Caderno do jornal de hoje para ler as duas matérias publicadas a respeito do filme que optei por ignorar mais cedo para não me deixar influenciar!


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